Levanta-te! Mais um dia.
A semana se arrasta em fios de linho mofado que se bifurcam em incansáveis horas de tédio e estafa estática. Olho para lá e para cá, procuro papéis em branco, escrevo meu nome de todas as formas possíveis; meus olhos deparam-se com o relógio: passara-se um minuto. Assim minha vida adolescente, de dramas mínimos e espinhas causadoras de ascos constantes, torna-se quase delével. O ar que gira em volta de meus pulmões encontra-se turvo, pesado e fedido. Minha mente, tão corrosiva para com meus próprios pensamentos, fecha-se em provas, testes, questões irresolutas, matérias diminutas e assuntos bobos de colegial.
Mais um dia.
Sinto que mui freqüentemente minha alma divaga, exorcizando-se de mim mesma, saindo do poço de confusões e perda de amores. Minha alma corre para o coração, onde minha mente também deveria estar. O coração, preferindo resguardar os últimos sentimentos verdadeiros que lhe restam, se oculta dentro de meu pequeno corpo, e perco-o de vista. Alma e coração perdidos.
Mais um dia.
O afobamento da vida, das pessoas, do comércio, indústrias e tecnologias afoga-nos em seu mar de consumismo, de ignóbeis polêmicas e assuntos baratos vendidos em butecos de esquina. Nessas esquinas, homens procuram saídas, e acham entradas para a perdição de seus anjos. Procuram o número da sena, o próximo capítulo da novela das oito, procuram em catálogos o próximo moderio. Distrações mundanas. Futilidade humana. O transcendentalismo, o diferente, o inovador vira pó.
Eu, porém, procuro a mim.
Pergunto a mendigos, amigos, desconhecidos: onde anda minha alma? Aquela que dança, grita, anima, aconselha, cospe, xinga, saltita, interpreta, sente, vive, chora, pula, tirinta,tilinta, teme, sofre,emociona e se emociona... Tem a visto por aí? Se a virem, diga que, por favor, volte para mim!
Mas os olhos fora de órbita nada falam, pois mui provavelmente também perderam suas almas.
Meus olhos deparam-se com o relógio: outro minuto...
3 comentários:
acho que se encontrar deve doer :/
(e provavelmente acho que essa foi a coisa mais estúpida que já disse na vida,ou não).
Sem dúvidas esse é um dos melhores textos que li nas últimas semanas, muito do que você colocou em palavras é o que se passa na minha própria e pequena mente.
Esse maldito relógio, a alma, o ser e não ser, o coração com band-aid...
A-D-O-R-E-I
e olhando no relógio, se passou um minuto.
Postar um comentário