Era noite de inverno; quase não chovera na semana e Sophie estava ansiosa, e apreensiva ao mesmo tempo. Ela era pequena e clara; tinha uma coleção invejosa de sardinhas no rosto, e seus cabelos transitavam entre louro e castanho; muitas pessoas achavam-na belíssima, sem que ela mesma pudesse concordar com tal afirmação. Era delicada por fora, rígida por dentro. Não gostava de exibir sentimentos pelo simples fato de as pessoas estarem acostumadas a dar um tiro em todos eles... O medo consumia seu coração há tanto que, naquela noite, naquele carro, tentou fingir que não estava sofrendo com a situação, que nada tinha muita importância.
Era noite de inverno; os vidros se embaçavam a cada frase vergonhosamente dita. Sentado ao seu lado, Mathew, um garoto de sorriso branco e coração enorme. Não se sabia dizer quem estava mais constrangido: ele colocava e tirava as mãos do volante a cada início de pensamento.Ela estralava os dedos e mexia nos cabelos... Depois estralava os dedos denovo.
- ... É complicado. Não quero machucar ninguém.
- A gente pode dar um jeito, se você quiser.
Ela queria que Mathew tentasse mais... Queria que ele quebrasse a fechadura que estivera há tanto em seu coração,e entrasse fazendo estrondo. Queria ter a certeza de que todo o tormento não seria em vão, de que ele realmente preferiria estar ao lado dela à continuar o falso romance sem explicação do qual vinha fazendo parte, com uma de suas amigas.
Sophie engoliu seco. Riscou desenhos indecifráveis no vidro borrado, e sem olhar nos olhos de vidro de Mat, deu uma desculpa qualquer, escondendo o real motivo : era covarde. Não tinha bravura bastante, nem graça suficiente para erguer o queixo e arriscar e, pela falta de insistências maiores, deixou, naquela noite, o carro ir embora de sua rua, deixando cheiro frio, o dia cinza.
Hoje, é noite de inverno. Chove há semanas e a chuva só abafa os gritos internos da menina com sardinhas sortudas; gritos pedindo outra chance, gritos clamando por um hiato sabor chocolate em sua vida-lama. Sophie só queria poder repetir aquele dia... Queria poder assumir o controle, tomar o volante, e não frear ainda que a curva fosse perigosa.
For the one who tried so hard to take a place in my heart, and I refused to let him in. I'm sorry for being in love with you right now.
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