Amigo, lembra-te daquele dia em que tomamos um café amargo, e o azedo da bebida escorregou por nossas línguas, fazendo uma mistura com sabor de infância?
E nossos corpos pequenos, ainda pequenos, se entrelaçaram num abraço de irmão, mas nos amamos feito feras famintas, e comemos e comemos o cordeiro há tanto tempo deixado de lado.
Lambuzamo-nos de carne maldita, arranhamos os temperos e as bocas, sentimos o cheiro da boa sujeira escorrendo pelos cabelos, abrindo os poros e deliciando a vida.
Tu te lembras disto, amigo? Do dia que nada prometia e acabou em profecia noturna, desejo soturno que se alastrou pelo fogo adormecido dentro do íntimo de cada qual.
Teus olhos negros queimavam em brasa, meus lábios ardiam e incendiavam a derme toda, tua pele arrepiada e atenta aos toques meus; tu me consumias como homem, com fome de menino assustado, mas seguro. Seguro de ti, seguro de mim, num aperto e aproximação que só os deuses conseguem ter.
E no fim da noite, o jorro do prazer já cessado, e nós já fatigados de saudar com ferocidade a alegria, deitamos feito bebês; não ligando para nada, a preocupação voltada simplesmente em abrandar as batidas do coração, tão frenéticas e harmônicas. Dormimos com o gosto adocicado e boêmio da noite, e tu, amigo, tão firme e tão meu, esvaiu-se em lembrança presente.
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