quinta-feira, 25 de março de 2010

FADADO.


Preciso dizer que há coisas pra se dizer entre mim e você... Não quero lembrar do que já passou; essa parte da revista já rasgou, o rosto secou, mas os papéis jogados e manchetes voam ao meu redor vez ou outra e grudam no peito, na mente, na boca. Gruda na boca e não sai. Mas agora eu cuspo. Preciso dizer...
Não, não sai. Talvez porque minha língua já esteja cansada de clichês de jornais, teme em repetir a tragédia, o polêmico caso que ninguém se importa... O acidente. Tudo começou com um acidente e umas feridas cá e lá.
Não reclamo do acidente, não reclamo das feridas... Mas em minha mente tudo é céu e nada, tudo é breu difuso e só ouço distorções de sua voz macia, ora me chamando, ora me mandando ir embora... Não percebe que não quero sair? E é aí que entra você...
Você também não quer, e idas e vindas me mantém por perto, vacilante e confusa. Adora, você adora o quarto pequeno, escuro e confuso. Gostaria que a luz voltasse (sim, facilitaria a leitura), mas o negro da noite e eu e você... Ah, o eu e você é bom também. Ainda que não faça total sentido; ainda que seja notícia ultrapassada, página virada. É bom, sempre bom... É aquele filme que terminamos de ver e começamos tudo de novo, é o livro que uma vez lido, jamais se esquece. E eu viro e reviro esse livro, as páginas grudam na boca, e... Bom, há muitas coisas pra se dizer entre mim e você. Vê?
Sei que vê, sei que sente... Nossa ausência é minha companheira sempre presente. E ela me ajuda a te procurar e observar de longe...Não percebe que não vou deixar de olhar? E é aí que você entra... O mesmo, sempre o mesmo.
... Espera! Não fica bravo, não vai embora. Sei que minha mania de falar cansa sua mania de ouvir,mas fique mais um minuto pra me ouvir pela última vez (nunca é a última vez): o que eu queria dizer é...