quarta-feira, 28 de julho de 2010

Sobre leões e cordeiros.



As pessoas sempre se vão.
Aqui estou de novo, repetindo lamúrias entediantes de uma vida que até então, perde seu objetivo a cada esquina. Vejo-me mais uma vez bebendo vinhos baratos, cuspindo lamentações de um drama fajuto, regado por gente que não se importa, que não sente, que não toca... E se toca, é somente pra sangrar.
O sangue jorrado de minhas veias se mistura com a bebida que me seca, e eu, já inconsciente de mim, sorrio... Que peça gigante se resume a vida!
Finjo constantemente ser a admirável boa moça, que a felicidade brota por entre meus cabelos... Por fora, sou a brisa doce que bate às portas de vilas gentis em tardes de outono. Sou a chuva fina que embala o sono dos descontentes, fazendo-os acreditar que nem tudo está morto. Eu sou a esperança no coração dos desesperados, a fé nos inconsolados... Eu sou o calor que expande os pulmões daqueles que fecham os olhos e aproveitam o pouco que a vida lhes dá de graça. Por dentro sou confusão.
Por dentro eu sou a fúria que nunca se compreende, a mente entrando em erupção a cada segundo, cuspindo chamas que primeiro me esquentam, depois me revigoram... Queimando-me por fim a carne, tirando-me a gritos novas resoluções para a vida, novo balde de esperança fria na cara.
Estou sempre só, no meio da multidão. Milhões de cabeças me seguem, criticando a sujeira de meus sapatos, apontando para a bagunça de meu quarto; infinitos pares de olhos imundos, cegos quando na frente da própria imagem, surdos ao som do próprio coração.
Toda a incerteza e paranóia, toda a insegurança seria motivo para acabar com o fio de vida já costurado por minhas mãos tremulantes. Porém, acabar com o mar de perguntas que afogam o Ser seria o mesmo que suplicar por um bote e ficar boiando a eternidade por cima delas... Boiar, boiar, e ficar mirando, de cima, todas as respostas iminentes que seriam obtidas através de um simples mergulho. Percebo isso e então prendo a respiração. Limpo a visão, arregaço as mangas e sei que a vida é pra ser odiada, assim, e amada ao mesmo tempo. Tenho a convicção de que questionamentos virão a todo tempo nos corações dos incuráveis, e que resoluções nem sempre são encontradas... É aí que está a graça do circo!
No fim, vivo ainda por pequenos, mas gigantes motivos... Devo minha vida à um punhado de cartas amarelas, à umas poucas mãos amigas, a uma caixa verde nunca envelhecida.... à minha curiosidade, à incessante teimosia por coisas e pessoas, à dança, a arte... A minha paixão pelo que ainda está por vir, a pelo que já se foi...

Afinal, as pessoas sempre se vão.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

" Playing God "


Há vezes em que me esqueço de mim... Em que minha alma vaga por quartos escuros enquanto olhos atentos me seguem com curiosidade canina.

Há tempos em que me transformo... Torno-me espécie de animal não catalogado, cometo erros, danço em cima da vida enquanto ela samba embaixo de meus sapatos feito tapete sobre um chão encerado. Hoje eu escorreguei. E no tombo, me perdi...

Às vezes me pergunto se é fase, se é minha condição de adolescente rumando pra vida adulta e desmedidamente dependente que me tira o fôlego, e não acho janelas abertas pra respirar novamente. Se é fase essa inconstância... A busca eterna pelo desconhecido, a paixão rasgante pelo fantasma que só aparece por debaixo de lençóis, nunca mostrando sua real face.

Por ora, denuncio a mim mesma de que cansei de tombos, de olhares mal falados, de frases mal ouvidas, vidas não sentidas. Erros, erros, erros. Prometo a mim mesma ser diferente; passar um batom alegre nos lábios, beijar barbas diversas, olhar pra frente e deixar que a penumbra escureça o que ficou pra trás, o que dobrou a esquina...

Mas sei que essa não sou eu. Minh'alma por ora é imutável e por mais que tente me esconder atrás de quadros finalizados com molduras de ouro, sei que, no fim, a arte já foi feita. Está pixada em minha testa e não há o que possa mudar o já escrito... Outra pintura por cima pode ser feita, mas a tinta com certeza borrará a obra, e manchas aqui e ali ficarão evidentes - para qualquer apreciador da vida - de que algo precioso fora tentado a ser esquecido.

Não há Botticelli para melhorar personalidades, ou Picasso para corrigir-nos os pecados. Levante a cabeça, arrume o tapete, que a dança termina quando a vida achar que já merece aplausos.

No fim das contas, somos todos bichos medrosos correndo atrás de respostas... Ora nos sujando com egoísmo e hipocrisia para tentar esquecer que nós, perfeitos animais, somos meros grãos de areia na imensidão do firmamento, na eternidade do mistério e da incerteza da vida... Fazemos parte do quase-nada e, ainda assim, conseguimos às vezes acabar com tudo.

Eu me lembro disso todos os dias.