segunda-feira, 26 de julho de 2010

" Playing God "


Há vezes em que me esqueço de mim... Em que minha alma vaga por quartos escuros enquanto olhos atentos me seguem com curiosidade canina.

Há tempos em que me transformo... Torno-me espécie de animal não catalogado, cometo erros, danço em cima da vida enquanto ela samba embaixo de meus sapatos feito tapete sobre um chão encerado. Hoje eu escorreguei. E no tombo, me perdi...

Às vezes me pergunto se é fase, se é minha condição de adolescente rumando pra vida adulta e desmedidamente dependente que me tira o fôlego, e não acho janelas abertas pra respirar novamente. Se é fase essa inconstância... A busca eterna pelo desconhecido, a paixão rasgante pelo fantasma que só aparece por debaixo de lençóis, nunca mostrando sua real face.

Por ora, denuncio a mim mesma de que cansei de tombos, de olhares mal falados, de frases mal ouvidas, vidas não sentidas. Erros, erros, erros. Prometo a mim mesma ser diferente; passar um batom alegre nos lábios, beijar barbas diversas, olhar pra frente e deixar que a penumbra escureça o que ficou pra trás, o que dobrou a esquina...

Mas sei que essa não sou eu. Minh'alma por ora é imutável e por mais que tente me esconder atrás de quadros finalizados com molduras de ouro, sei que, no fim, a arte já foi feita. Está pixada em minha testa e não há o que possa mudar o já escrito... Outra pintura por cima pode ser feita, mas a tinta com certeza borrará a obra, e manchas aqui e ali ficarão evidentes - para qualquer apreciador da vida - de que algo precioso fora tentado a ser esquecido.

Não há Botticelli para melhorar personalidades, ou Picasso para corrigir-nos os pecados. Levante a cabeça, arrume o tapete, que a dança termina quando a vida achar que já merece aplausos.

No fim das contas, somos todos bichos medrosos correndo atrás de respostas... Ora nos sujando com egoísmo e hipocrisia para tentar esquecer que nós, perfeitos animais, somos meros grãos de areia na imensidão do firmamento, na eternidade do mistério e da incerteza da vida... Fazemos parte do quase-nada e, ainda assim, conseguimos às vezes acabar com tudo.

Eu me lembro disso todos os dias.

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