domingo, 6 de junho de 2010

PERMANENTE

Ela estava cansada; cansada, e com dores nos pulmões. Não era o tipo de doença que matava aos montes as pessoas na década de vinte, não. Mas estava doente e não sabia bem se devia sair de casa naquele feriado; fazia frio... Ainda assim, saiu. A amiga, a qual não via há quase meio ano a animava como ninguém... Aqueles olhinhos apertados de bolinhas de gude.
Comportou-se. Não bebeu. Quase não riu também... E enquanto todos se divertiam percebeu que, na verdade, seus programas agora só faziam graça se ela estivesse bêbada ao ponto de não lembrar de atos, fatos e pessoas...Sentiu-se fora de prumo.Tomou um gole de suco. Engoliu seco, e sorriu para a amiga afastada. Depois de copos virados, conversas torcidas e meias rasgadas, resolveram todos dançar... Ela adorava dançar, como gostava! Mas estava ruim dos pulmões... Foi, mesmo assim.
Luzes, música, sorrisos... O mundo em volta girava num compasso diferente do dela, seus pés doíam e a vontade de ir embora e ver um filme era grande... Como andava diferente, ultimamente. Eis então, que encontra um velho amigo...
Ele vinha em sua direção, daquele jeito esquisito e desengonçado, certamente que pensando se falaria ‘Oi’ ou não... Usava uma camiseta verde escura (ou preta, confundida pelo som das luzes) e uma jaqueta de couro por cima... E estava cheirando à velha timidez de sempre... Ele falou com ela. Ela sentiu a alquimia. Aquele rosto correto e sorriso simétrico a fizera tão bem um tempo atrás... E ela arruinara tudo. E agora, o mesmo sorriso sem jeito, olhando pelos cantos, fazia contato novamente.

“Que bom, ele não me odeia completamente!” gritou por dentro.

Por um momento, os pulmões pararam de doer, e a fraca menina provou com gosto as palavras difusas, as trocas de informações rápidas e o “Já volto” do velho amigo.
Voltou para casa com a marca do abraço, a alegria do reencontro, a possibilidade da aproximação... E dormiu com os olhos pregados no menino de sorriso correto.

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