terça-feira, 31 de janeiro de 2012

APEGO



Espera!

Pára só um pouco e fica aí mesmo onde está agora.

Você está percebendo? O som, as luzes, o cheiro... Como não? Eu consigo quase ver as cores do som que teu corpo faz quando está perto do meu. Como não ouve nada? Escuta, bem de perto... Sente aqui o cheiro das minhas palavras, toca as formas e os cabelos, beija meu nariz, que talvez você sinta algo... Não é possível que só eu sinta a alquimia embolada em nossas pernas; não posso eu ser a única a ouvir nosso querido e próximo Dionísio nos chamando para a celebração eterna das carnes e do sangue!

Escuta... Ouviu? Pega na minha mão, vê como ela se encaixa tão bem na sua, tão dispares e harmoniosas; eu sempre gostei da sensação do charme dentro do desajeito... Até meus ossos fazem barulhos esquisitos quando estão rígidos, apaixonados pelos seus dedos! E meus pêlos, os pêlos do corpo todo se arrepiam com o suor teu; não vê? Ariadne está perto de nós enrolando-nos em fios de linho, nos salvando do labirinto do tédio. Sente o vinho molhando nossos olhos, sente o gosto da uva minha que passa pra língua tua. Ouve, ouve os gemidos que saem de dentro de mim, de dentro de mim tão vergonhosos procurando desesperadamente pelos ouvidos teus, para que não se percam.

Ainda nada? Por Deus! Chega mais perto, então... Sim, ainda mais perto do que já estamos. Vem, pulsa comigo! Que se confundam os braços, os rostos, as nádegas e faringes; que se confundam as almas. Vamos, morda os ventos que entram pela janela, e assopre-os no meu pescoço, eriçando a minha espinha! Derreta o mundo a tua volta, ascenda uma vela perto de nós, sente a cera nos grudando, nos unificando e inundando o mundo de Mundo! Percebe agora?... Calma, estou quase vendo a linha.

E agora?

... E agora?

Agora sim. Agora nós.